ATA
DA QÜINQUAGÉSIMA SEGUNDA SESSÃO SOLENE DA TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA
DA DÉCIMA TERCEIRA LEGISLATURA, EM 02-12-2003.
Aos
dois dias do mês de dezembro de dois mil e três, reuniu-se, no Plenário Otávio
Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às quinze
horas e quinze minutos, constatada a existência de quórum, o Senhor Presidente
declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada à entrega do Prêmio
Troféu Honra ao Mérito à Livraria do Globo, nos termos do Projeto de Resolução
nº 071/03 (Processo nº 4168/03), de autoria do Vereador Aldacir Oliboni.
Compuseram a MESA: o Vereador João Antonio Dib, Presidente da Câmara Municipal
de Porto Alegre, os Senhores Cláudio Marcelo Avila Bertaso e Henrique Ferreira
Bertaso, respectivamente Diretor-Presidente e Diretor Vice-Presidente da
Livraria do Globo; o Senhor Antonio Giroto, representante do Senhor
Vice-Governador do Estado do Rio Grande do Sul; a Senhora Leila Thomassin,
representante do Senhor Prefeito Municipal de Porto Alegre; o Vereador Aldacir
Oliboni, 3º Secretário deste Legislativo. A seguir, o Senhor Presidente
convidou a todos para, em pé, ouvirem a execução do Hino Nacional e, em
continuidade, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O
Vereador Aldacir Oliboni, em nome das Bancadas do PP e do PMDB, discorreu sobre
a justeza da presente homenagem, historiando a trajetória da família Bertaso no
comando da Livraria do Globo desde sua fundação e afirmando ser essa empresa um
paradigma de qualidade e respeito ao consumidor. O Vereador Carlos Alberto
Garcia, em nome das Bancadas do PSB, PP e PMDB, ressaltou os cento e vinte anos
de existência da Livraria do Globo, lembrando ser esta uma empresa genuinamente
gaúcha e destacando o nome de Érico Veríssimo como um dos maiores escritores
publicados pela Livraria do Globo. A Vereadora Margarete Moraes, em nome da
Bancada do PT, cumprimentando a iniciativa dos Vereadores Aldacir Oliboni e
Carlos Alberto Garcia em prestar a presente homenagem, enfocou a importância da
Livraria do Globo na sua formação pessoal e declarou que a empresa faz parte da
história da Cidade de Porto Alegre. O Vereador Isaac Ainhorn, em nome da
Bancada do PDT, teceu considerações sobre a relevância cultural, social e
política da Livraria do Globo na vida dos porto-alegrenses, salientando que
essa empresa se tornou um ponto de encontro da intelectualidade gaúcha durante
vários anos. O Vereador Elói Guimarães, em nome da Bancada do PTB, justificando
que a Livraria do Globo se tornou uma instituição pública pelo destaque
cultural, histórico e político adquirido ao longo de seus cento e vinte anos,
expressou a opinião de que essa empresa representa um centro de formação do
saber. O Vereador Wilton Araújo, em nome da Bancada do PPS, reiterou a
significação da concessão, por parte desta Casa, do Troféu Honra ao Mérito à
Livraria do Globo, mencionando que essa empresa merece o respeito de toda a
comunidade porto-alegrense, em razão dos serviços prestados à comunidade. O
Vereador Raul Carrion, em nome da Bancada do PCdoB, enalteceu a trajetória da
Livraria do Globo, desde sua fundação, em mil oitocentos e oitenta e três,
citando autores publicados pela empresa, como Mário Quintana e Érico Veríssimo,
e alegando que a Livraria do Globo está inserida na história de Porto Alegre. O
Vereador Reginaldo Pujol, em nome da Bancada do PFL, referiu-se ao apreço que a
população tem pela Livraria do Globo, recordando situações políticas
vivenciadas por Sua Excelência junto ao prédio dessa Empresa, as quais fazem
parte da história da Cidade de Porto Alegre. A seguir, o Senhor Presidente
convidou a Senhora Mila Cauduro para, juntamente com os Vereadores Aldacir
Oliboni e Carlos Alberto Garcia, procederem à entrega do Troféu Honra ao Mérito
ao Senhor Henrique Ferreira Bertaso, que, em nome da Livraria do Globo,
agradeceu o Troféu recebido. Às dezesseis horas e trinta e sete minutos, nada
mais havendo a tratar, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé,
ouvirem a execução do Hino Rio-Grandense, agradeceu a presença de todos e
declarou encerrados os trabalhos, convidando os presentes para a Sessão Solene
a ser realizada a seguir. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador João
Antonio Dib e secretariados pelos Vereadores Aldacir Oliboni e Carlos Alberto
Garcia, este como Secretário "ad hoc". Do que eu, Aldacir Oliboni, 3º
Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em
avulsos e aprovada, será assinada pela Senhora 1º Secretária e pelo Senhor
Presidente
O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): Estão abertos os trabalhos da presente
Sessão Solene, destinada à outorga do Troféu Honra ao Mérito à Livraria do
Globo.
Compõem
a Mesa o Sr. Cláudio Marcelo Avila Bertaso, Diretor-Presidente da Livraria do
Globo; o Sr. Henrique Ferreira Bertaso, Diretor Vice-Presidente da Livraria do
Globo; o Dr. Antonio Giroto, representante do Vice-Governador do Rio Grande do
Sul, ex-Vereador Antonio Hohlfeldt; a Exma. Sra. Leila Thomassin, representante
do Prefeito Municipal - o Prefeito de Porto Alegre está no outro plenário,
falando sobre os problemas da nossa Cidade.
Cumprimento
também os proponentes desta homenagem, Ver. Aldacir Oliboni e Ver. Carlos
Alberto Garcia, senhoras e senhores Vereadores que aqui estão presentes, demais
autoridades e imprensa.
Convidamos
todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional.
(Ouve-se
o Hino Nacional.)
Neste
momento, convido a fazer uso da palavra, em primeiro lugar, os proponentes:
Vereadores Aldacir Oliboni e Carlos Alberto Garcia, que também falarão pelas
Bancadas do PP e do PMDB.
O SR. ALDACIR OLIBONI: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, Sras.
Vereadoras. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) O Troféu de
Honra ao Mérito, em Porto Alegre, é concedido a pessoas físicas ou jurídicas
que tenham-se destacado nas diversas áreas do conhecimento humano ou que, por
seus feitos, sejam merecedores do reconhecimento do Poder Legislativo
Municipal. Cada Bancada partidária, representada nesta Casa, pode outorgar um
troféu por ano. Portanto, é uma homenagem que concentra prestígio apenas a um
número reduzido de cidadãos ou empresas.
Esta
Casa Legislativa não teve qualquer dificuldade em aprovar a concessão desta
justa homenagem à Livraria do Globo S/A, empresa dirigida pela Família Bertaso,
cuja história no Brasil tem início com o casal Serafim Bertaso e Veneranda
Bertaso, de origem italiana.
Natural
de Verona, a família partiu de Gênova para o Brasil no final do século XIX
trazendo seus três filhos, dentre eles o pequeno José Bertaso. O destino era a
colônia de Silveira Martins, interior de Santa Maria, nesta terra gaúcha. Na
bagagem, o sonho: cultivar a terra.
A
família pouco ficou em Santa Maria. Passou por Cachoeira do Sul, Porto Alegre,
chegando a Canoas. O pequeno José trabalhava desde seus tenros oito anos de
idade numa fábrica de fumos e, com o passar dos anos, desenvolveu planos
diferentes daqueles iniciais de seus pais. O pequeno desejava ser professor,
trabalhar com livros, que era o seu gosto.
Aos
onze anos, freqüentava uma escola pública, em Canoas, onde Dona Arminda
Correia, prima do Sr. Laudelino Pinheiro Barcellos, era professora e que, em
1883, abrira em Porto Alegre, na Rua da Praia, uma pequena loja de artigos de
papelaria, a Livraria do Globo.
Diante
das dificuldades financeiras da família Bertaso, o pequeno José tinha de
trabalhar, quiçá, abandonar os estudos.
Foi
então que a Professora Arminda, conhecendo o amor que seu aluno cultivava pelos
livros resolveu interceder junto ao primo Laudelino, abrindo a porta da
Livraria do Globo ao menino que ali trabalhou por 58 anos.
Era
final de 1890 e José tinha treze anos incompletos. Trabalhava das seis e meia
às vinte e duas horas. Foi servente e, apesar de ganhar pouco, alimentava a
paixão pelo trabalho.
Foi
caixeiro, chefe de loja, administrador das oficinas, gerente, e, interessado,
passou a ser sócio da Empresa.
Em
1918, o Sr. Laudelino faleceu e a empresa passou a chamar-se Barcellos, Bertaso
& Cia.
Em
1905, o jovem José casou-se com Stella D’Avila, nascendo quatro filhos:
Henrique, José Filho, Paulo e Regina.
A
Livraria do Globo, com José Bertaso, transformou-se num dos mais completos
estabelecimentos gráficos do País. Ele foi responsável pela instalação da
primeira linotipo em Porto Alegre. O progresso da empresa era constante.
Em
1919, a sessão de litografia foi instalada; em 1928 fundou a Revista O Globo,
por sugestão do então Presidente do Estado do Rio Grande do Sul, o amigo
Getúlio Vargas.
A
Livraria do Globo crescia, tornava-se centro de referência dos intelectuais de
Porto Alegre e do Estado.
Em
1924, foi erguido o prédio da Rua da Praia com duas frentes. A imagem da
papelaria dos primeiros tempos, do Sr. Laudelino, se misturava com a pujança
que a empresa alcançava, bem antes da metade do século XIX.
Contudo,
a memória não foi apagada; com denodo e carinho ficou tudo registrado como
parte da história recente de nossa Cidade. Em 1930, por iniciativa do filho
mais velho, Henrique José Bertaso, criou a sessão que, mais tarde, converteu-se
na Editora Globo.
A
comemoração dos 50 anos de trabalho de José Bertaso, em 1940, foi plena de
homenagens, especialmente pelos seus empregados que traçaram seu perfil
bibliográfico, donde destacam-se afirmações do tipo: “firmeza de caráter e
persistência”, “homem de alma simples e sadia”, “não conhece a vaidade nem o
ódio, não se ilude com condecorações e vitórias exibicionistas”.
Durante
58 anos, foi o trabalhador mais assíduo e dedicado da empresa, um verdadeiro
exemplo ao povo porto-alegrense, gaúcho, e por que não afirmar, um ser humano
de rara afeição, eis que nascido na Itália, vivendo no Brasil, com seu modo de
vida, tornou-se um cidadão do mundo, um exemplo a ser seguido por quem desejar
obter algum êxito na vida.
Em
14 de setembro de 1948, José Bertaso faleceu, quando estava no Rio de Janeiro
tratando da sua saúde.
No
seu cortejo via-se operários, deputados, serventes, eclesiásticos, militares,
intelectuais, industrialistas, comerciários, médicos, advogados, enfim, uma
multidão que representava um extrato da sociedade do Rio Grande do Sul.
Ao homenagear a Livraria do Globo S/A não podemos deixar de
render a mais sincera saudação ao espírito empreendedor de José Bertaso, aqui
representado por seus sucessores Cláudio Bertaso, Fernando Bertaso e Henrique
Ferreira Bertaso.
Necessário se faz também discorrermos sobre a Livraria do
Globo, suas histórias, seus feitos e os grandes momentos. De 1883 para cá, a L.
P. Barcellos & Cia. se dedicou ao comércio de livros, artigos escolares e
de escritório, inicialmente, e logo instalou tipografia e encadernação. Ao
pequeno e antigo prédio, foram incorporados outros, reformados e ampliados.
Criaram-se filiais no Interior do Estado.
Em 1918, a firma passou a nominar-se Barcellos, Bertaso
& Cia., como já referimos. Com o tempo, os três filhos de José Bertaso
ingressaram na empresa. Henrique, o mais velho, foi ampliar o setor editorial,
até então voltado a publicar, principalmente, obras de escritores da província,
livros didáticos, algumas traduções e, em 1931, o Almanaque Globo e a Revista
do Globo.
Era 1931. Nessa época, contou com a contribuição valorosa e
singular do escritor Erico Verissimo. Juntos, organizaram e executaram um
programa de edições de grande valor, projetando o nome da Editora Globo muito
além das fronteiras do Estado e do País.
Da
obra do grande Érico Veríssimo, que ele intitulou “Um Certo Henrique Bertaso -
pequeno retrato em que o pintor também aparece”, verdadeiro documento à memória
cultural do nosso Estado, retiramos uma breve passagem narrada pelo autor que
bem demonstra a inspiração e perseverança dos homens que sempre estiveram à
frente tanto da Editora Globo, em sua época, como da Livraria do Globo, até os
dias de hoje. Dizia Érico Veríssimo: “Um dia, sentei-me diante da mesa do
Henrique e disse: ‘Quer arriscar a perder dinheiro, mas dar prestígio literário
à Editora?’ ‘Como? indagou Henrique.’ Disse Verissimo: “Publicando o livro que
acabo de ler, recomendado por Augusto Meyer: o Point Counterpoint, de Aldous
Huxley, autor inglês moderno.” “Que gênero? perguntou Henrique”. “Romance: literatura
para uma elite, com mais de 400 páginas.” Bertaso então perguntou: “Quem vai
traduzi-lo?” Respondeu Verissimo: “Eu mesmo. Mostrei-lhe o volume. Ele o
folheou, coçou a cabeça, tornou a me olhar e por fim disse: ‘Vou escrever ao
nosso agente em Nova Iorque, pedindo que nos consiga os direitos autorais com
exclusividade para a Língua Portuguesa.” A obra proposta por Erico Verissimo
levou oito meses para ser traduzida, e foi publicada em 1935: “Contraponto”,
como se chamou em Português. Foi um livro de venda lenta e jamais deu prejuízo
à Editora. Passados mais de 40 anos, esse romance é periodicamente reimpresso.
Contava
Érico Veríssimo que, até aquela época, a literatura traduzida para a Língua
Portuguesa e impressa no Brasil era de origem notadamente francesa. Com
Henrique Bertaso, a Editora Globo lançou coleções como a Nobel, aliás, idéia
dele, que incluía autores ilustres dentre aqueles que ganharam o disputado
prêmio de origem sueca. Vários desses autores eram de Língua Inglesa ou
Germânica e suas obras foram postas à disposição dos leitores brasileiros, por
vez primeira, através da Globo.
Em
poucos anos a Editora era conhecida em todo o País. Os livros, com a chancela
da Globo, eram vistos em toda a parte do Brasil, e a Literatura Estrangeira no
Brasil recebeu enorme impulso com a chegada desses autores de origem
anglo-saxônicas, germânicas, dentre outros.
A
história é muito bonita, Sr. Presidente, por isso devo continuar.
Em
1948, ano de falecimento de José Bertaso, a empresa passou a nominar-se José
Bertaso & Cia. E, em seguida, em 1949 a Editora virou Sociedade Anônima,
Livraria do Globo S.A.
A
história tanto da Livraria quanto da Editora é muito rica, e importa dizer que,
se não fosse a velha e pequena papelaria do Sr. Laudelino, onde tanto trabalho
e talento passou, não se teria conhecido a Editora e todo o seu sucesso
editorial, até, finalmente, ser vendida à atual Rede Globo do Rio de Janeiro,
em 1986.
É,
sem dúvida alguma, a Livraria do Globo, a pedra fundamental, a referência
perfeita do sucesso verificado ao longo desses 120 anos de trabalho sob o
comando da Família Bertaso. O Troféu de Honra ao Mérito concedido pela Câmara
Municipal de Porto Alegre à Livraria do Globo – proposição do Ver. Carlos
Alberto Garcia e deste Vereador que vos fala –, alcança toda essa história,
homenageia a Editora e as demais empresas que existiram ao longo dos anos e
que, de alguma forma, viabilizaram essa caminhada repleta de êxitos.
Há
exatos 120 anos, completados no último dia 19 de outubro, a Livraria do Globo vem
firmando seu nome como paradigma de competência, qualidade e respeito ao
consumidor.
Não
podemos deixar de lembrar que uma obra dessa magnitude somente foi possível
pelo empenho das pessoas que lá trabalharam, uma enorme lista de nomes de
trabalhadores de valor inestimável. Muitos deles afastaram-se após a
aposentadoria por tempo de serviço, alguns, mesmo após a aposentadoria,
prosseguiram na empresa e uns poucos pararam, apenas quando o seu ofício deixou
de existir em razão da chegada da tecnologia.
Chegaram
a mil e cem funcionários. Imprimiram títulos do Governo Estadual, Loteria
Estadual, e até mesmo papel-moeda em duas ocasiões.
De
José Bertaso, sucederam-se quatro gerações: seus filhos Henrique D’Avila
Bertaso, José Bertaso Filho, Paulo D’Avila Bertaso e Regina Bertaso de Almeida.
Os netos, dentre os quais destacamos: José Otávio D’Avila Bertaso, Cláudio
Marcelo Avila Bertaso e Fernando D’Avila Bertaso; os bisnetos: Henrique
Ferreira Bertaso, Ana Luiza Bertaso Mason, Cláudia Ferreira Bertaso, Ricardo
Ferreira Bertaso e Gustavo Ferreira Bertaso, filhos de Cláudio e Eliza Morganti
Bertaso Barbieri, filha de José Otávio.
Senhores
e senhoras. Percebemos que em Porto Alegre não há outra empresa com uma jornada
tão duradoura, que tenha passado pela vida de tantas pessoas, algumas ilustres
e outras tantas desconhecidas, mas todos virtuosos operários das letras, das
artes gráficas, da editoração e do comércio.
Visitando
a sede da empresa, percebemos com uma ponta de orgulho, por ser ela gaúcha, a
enorme quantidade de premiações que recebeu ao longo de sua existência.
À
nossa Porto Alegre, fazer-se ali presente, era obrigação agora atendida com
muita satisfação.
Sentimo-nos
pequenos diante da trajetória da Livraria do Globo, do currículo da família
Bertaso e seus colaboradores. A contribuição grandiosa que deram à cultura de
nossa Cidade e do nosso Estado é infinitamente maior que a homenagem que hoje
prestamos. Contudo, creiam-nos, no peito de cada um que tiver a oportunidade de
conhecer esta história haverá, com toda a certeza, o mesmo orgulho e sentimento
de gratidão que hoje sentimos ao dizer a toda família da Livraria do Globo:
muito obrigado, que Deus esteja com todos e, a cada dia, os iluminem para que
esse gênio criador não pereça jamais. Parabéns! Que Deus o proteja para sempre.
Muito obrigado. (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): O Ver. Carlos Alberto Garcia, segundo
proponente da homenagem que ora se realiza, está com a palavra.
O SR. CARLOS ALBERTO GARCIA: Sr. Presidente, Sras. Vereadoras e Srs.
Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) O Ver. Aldacir
Oliboni discorreu, durante toda a sua fala, sobre esta instituição que, ao
longo de 120 anos, é motivo, para nós gaúchos, de muito orgulho.
Quero
também ressaltar que estou falando, nesta oportunidade, em nome do Partido
Progressista e do Partido do Movimento Democrático Brasileiro.
A
Livraria do Globo, conforme dito pelo próprio Ver. Aldacir Oliboni, foi criada
exatamente há 120 anos, no dia 19 de outubro de 1883. Foi ressaltado também
aqui a contribuição de José Bertaso, porque, na época, era um menino com 12
anos e meio. Se fosse agora, provavelmente, estaria impedido de trabalhar,
porque a legislação não permite. Naquela época, isso era comum, porque todas as
famílias foram forjadas na perseverança; desde pequenos sabíamos que cada um
tinha que dar o suor para contribuir. Muitas vezes, me orgulho disso, quando eu
conto para os meus filhos que, quando trabalhava logo no início, com 13, 14
anos, o dinheiro que eu recebia eu entregava para a minha mãe; eles, às vezes,
dão risadas, mas era praxe. Entregávamos aquele dinheiro e quando precisávamos
sempre havia o diálogo. E foi isso, essa empresa foi forjada nesse menino, que
tinha uma tenacidade muito grande, e, que, aos poucos, por seu entusiasmo, pela
sua percepção, assumiu diversos postos até chegar a dirigir essa empresa.
Eu
quero também falar um pouco da minha infância. Eu fui criado no bairro Menino
Deus, lembro-me do Parque Gráfico, na rua Getúlio Vargas. E a minha mãe sempre
dizia que aquilo, para alguns, era uma loucura: sair do Centro e ir para a
periferia - ora, o bairro Menino Deus, hoje, é Centro. E, ali, naquele bairro,
junto ao Grêmio Náutico Gaúcho, ao Estádio dos Eucaliptos e ao Parque de
Exposições, era onde ficava o Parque Gráfico. E uma da coisas que me chama
muito a atenção em relação à Livraria do Globo é que um dos seus maiores
escritores referenciais foi Érico Veríssimo. Eu tinha 13 anos quando tive a
oportunidade de ler uma obra - na minha visão, sensacional e adequada à faixa
etária - chamada Clarissa, a qual, com muita propriedade, retratava a nossa Rua
dos Andradas, na época, a Rua da Praia. E aquele livro, eu me lembro, quando
tinha 13 anos, eu fui lendo, fui lendo, fui imaginando, e, cada vez mais,
passando do cotidiano algo que a gente vivia. Então, Érico Veríssimo foi,
realmente, um daqueles grandes escritores, e toda a sua obra vinculada à
Livraria do Globo.
Também
foi falado aqui, que essa empresa é uma empresa familiar. E nós sabemos - eu já
disse aqui esses dias, quando o Ver. Wilton Araújo, com muita propriedade,
resolveu homenagear a Livraria do Globo, e nós tivemos a oportunidade de falar
- que as empresas familiares, ao longo dos anos, se perdem, as famílias em que
vão-se sucedendo as gerações, muitas vezes, não continuam; mas, essa empresa
tem essa pujança de ter sido formada no seio familiar e continuar no seu seio
familiar. E ela foi muito grande - durante uma época teve mais de 1.100
funcionários -, e tinha uma característica: naquela época, os funcionários
entravam na empresa, assumiam diversos postos, ou seja, tornavam-se
carreiristas e ficavam toda a sua vida trabalhando nela. Um outro motivo de
orgulho para nós é que essa empresa é, genuinamente, gaúcha, e é por isso, que,
com toda essa alegria, nós - eu e o Ver. Aldacir Oliboni -, tivemos a honra de
incluí-la no rol das homenageadas a receber esse Troféu, o Troféu Honra ao
Mérito, que, quero ressaltar, foi acolhido pela unanimidade dos Vereadores aqui
da Casa, porque o que a Livraria do Globo fez, faz e fará pela Cidade, pelo
Estado, é algo grandioso.
Então,
parabéns à família Bertaso, e continuem sempre com essa obra, porque quem lucra
com isso é a Cidade e o povo do nosso Estado. Muito obrigado. Parabéns a todos.
(Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): A Ver.ª Margarete Moraes está com a
palavra em nome do Partido dos Trabalhadores.
A SRA. MARGARETE MORAES: Sr. Presidente, Sras. Vereadoras, Srs.
Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Embora, até por
uma questão de temperamento, por uma timidez excessiva, eu evite depoimentos
pessoais a partir de uma experiência minha, é preciso dizer que, quando eu era
criança, na cidade de Iraí, nos anos 50, o mundo - para toda a minha família -,
se alargava e crescia muito na minha casa, quando chegavam o Correio do Povo, a
revista O Cruzeiro e a Revista do Globo. Esta Revista do Globo chamava muita
atenção porque tinha uma programação visual absolutamente à frente do seu
tempo, inusitada para os padrões da época, inusitada para a cidade de Iraí. Por
meio da Revista do Globo tive acesso ao mundo da arte, ao mundo do João
Farhion, do Libindo Ferraz, acesso aos contos, aos textos do Érico Veríssimo -
esse cruz-altense - e também acesso aos clássicos da literatura, por meio dessa
tradução que já existia e que Érico Veríssimo, entre tantos outros, fazia muito
bem. Mas eu tenho certeza de que, para qualquer pessoa, independendo de
qualquer condição de local de moradia ou de idade, o acesso ao jornal, ao livro
e à revista consegue, sempre, remeter essas pessoas para muito além de si
mesmas. O livro, a revista têm o poder de enriquecer as pessoas muito além do
seu mundo e da suas expectativas pontuais ou momentâneas.
Segundo
o Prof. Darcy Ribeiro, Ver. Isaac Ainhorn, o livro foi a maior invenção da
história e a base de todas as outras conquistas da civilização. Eu, tendo
elegido esta Cidade para viver, para trabalhar, para constituir família, para
criar as minhas filhas, para fazer amigos e, também, para militar politicamente
nessa utopia que todos nós aqui temos de melhorar a vida - eu creio que esse
seja um sonho coletivo de todos os Vereadores e Vereadoras desta Casa. Quero
dizer que eu amo esta Cidade e que reconheço em Porto Alegre algumas
singularidades, sobretudo uma vocação artística e cultural da maior relevância,
sendo essa uma marca insuperável da cidade de Porto Alegre. Trata-se de uma
Cidade que sabe refletir, que sabe ensinar, uma Cidade, Geraldo Huff, que tem a
Feira do Livro constituída no calendário cultural, na agenda cultura de Porto
Alegre, incorporada nessa vida, e que, no próximo ano, completará 50 anos de
existência. Isso não é pouca coisa. Uma Cidade que sabe que a cultura, às
vezes, é um bem abstrato, um pouco indefinido, mas que tem uma materialidade
incontestável nas suas figuras, nos seus talentos; tem, na cultura, Érico
Veríssimo, Iberê Camargo, Elis Regina, Paulo Fontoura Gastal - entre tantos
outros homens e mulheres - Luciana de Abreu, Isolda Paes; conta, hoje, nesta
sala, com a presença de uma figura do porte da Sra. Mila Cauduro, a quem nós
queremos homenagear neste momento. É uma Cidade que, além das suas figuras
importantes e dos seus talentos, conta com equipamentos, com lugares, com
espaços plenos de sentido e de significado, e é esse sentido que confere valor
a nossa vida, porque são espaços capazes de gerir, de promover, de incentivar
as coisas do espírito, as coisas do mundo da transcendência. Esse é o caso, sem
nenhuma dúvida, da Livraria do Globo, merecidamente homenageada por esta Casa,
neste momento. A Livraria do Globo, desde sempre, exerce uma função que pode
ser comparada a um serviço, como um estímulo, uma valorização ao mundo da
criação, ao mundo da imaginação e do sonho, um estímulo aos produtores, aos
difusores da literatura e da arte, que tem a ver também com o mundo clássico do
pensamento e da emoção, seja como editora, seja como livraria, fato que
permanece até hoje.
A
Livraria do Globo já tem um legado, um legado de pioneirismo, um padrão de
qualidade e densidade, uma herança que vem de geração a geração, de padrão
ético e moral, no trato com os funcionários, na delicadeza com os
freqüentadores, na democracia interna e externa. Já tem um legado de exigência
crítica, de rebeldia saudável da criação. Isso pode ser reconhecido numa
criança nos anos 50, em Iraí, como nas próximas gerações, em qualquer dos
quadrantes do Rio Grande do Sul e do Brasil. Ela funciona mais ou menos como
uma bússola; é um ponto de partida, um ponto de chegada, e um ponto que não
acabou, que segue, hoje, sim, educando, permitindo a construção da própria
identidade e incutindo, em todos nós, um sentimento, um orgulho do sentimento
de pertença: nós somos de Porto Alegre, vivemos nesta Cidade que tem a Livraria
do Globo. Isso é um grande orgulho.
Portanto,
em nome da Bancada do Partido dos Trabalhadores, a quem eu tenho orgulho de
representar, nós queremos cumprimentar e parabenizar aos Vereadores e
companheiros Carlos Alberto Garcia e Aldacir Oliboni pela perspicácia, pela
sensibilidade, pela propriedade; e, neste momento, queremos dar os parabéns e
agradecer à família por todo o serviço, por tudo que significa, na vida
cultural de Porto Alegre, a Livraria do Globo. Eu creio que não é a Câmara
Municipal de Porto Alegre que agradece, mas é toda a Cidade, porque trata-se de
um Título, de uma Comenda que foi aprovada por todas as Bancadas da Casa,
independendo da ideologia ou do Partido que, por acaso, representem.
Portanto,
parabéns e vida longa à Livraria do Globo. Muito obrigada. (Palmas.)
(Não
revisto pela oradora.)
O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): O Ver. Isaac Ainhorn está com a palavra.
O SR. ISAAC AINHORN: Sr. Presidente, Sras. Vereadoras e Srs.
Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Os meus colegas
que me antecederam, sobretudo o Ver. Aldacir Oliboni e o Ver. Carlos Alberto
Garcia, traçaram a história e a evolução da Livraria do Globo; de outro lado, a
Ver.ª Margarete Moraes aprofundou algumas reflexões que nos conduzem a avaliar a
importância cultural, social e política que teve no curso desses últimos 100
anos da nossa Livraria da Globo. Eu digo que ela é nossa, Cláudio, na medida em
que ela é um patrimônio da nossa Cidade e do nosso Estado. Eu aprendi a
conviver com a Livraria do Globo por meio da edição dos seus livros. O Brasil
conheceu a grande literatura mundial, os grandes clássicos da literatura
mundial por intermédio da Livraria do Globo. A Livraria do Globo também se
constituiu em ponto e referência intelectual e política do Rio Grande. E,
quando nós estamos aqui homenageando a Livraria do Globo, nós queremos, de uma
certa maneira, resgatar aqueles valores que a sensibilidade da família Bertaso
deixou como legado maior para Porto Alegre, para o Rio Grande. Ali era ponto de
encontro, de referência intelectual. As figuras que ali chegavam, que ali
aportavam... O Herbert Caro, vindo da perseguição do nazismo, foi acolhido pela
família Bertaso e ali traduziu “A Montanha Mágica” e outras obras de Thomas
Mann. Ali a gente encontrava, sim, figuras da nossa Cidade, Dr. Raul Cauduro,
Guilherme Flores da Cunha, tantas figuras, caras, da nossa vida intelectual.
Não vou falar da nossa referência maior da cultura rio-grandense, que é Érico
Veríssimo, e dessa grande ligação da Livraria Globo, da edição de seus livros,
sobretudo da obra que é um clássico da literatura brasileira, “O Tempo e o
Vento”, que é uma continuidade daquelas grandes referências de natureza
literária.
Mas,
se a gente tinha que ler Rogério Martain Dègare, era pelas mãos e sensibilidade
de José Bertaso, que soube compreender a ebulição intelectual de Porto Alegre e
fez do Rio Grande essa referência nacional; Jean Cristoph era pelas mãos também da Livraria do Globo. Todas as obras e
também o destaque, a descoberta por aquele grupo de intelectuais que constituía
a Livraria do Globo trazendo as grandes revelações literárias da Europa, da
Velha Europa, e dos Estados Unidos, quer dizer, Jack London e tantos outros
escritores. “Não se Mata Cavalo”, uma novela que eu tive, quando jovem, menino,
a oportunidade de ler, por intermédio das obras editadas pela Livraria do
Globo. Tudo, Mérimée, Guy
Montpassant, tudo passava pela
Livraria do Globo. Então, quando nós, de forma justa, outorgamos, hoje, a uma
das suas gerações o Troféu Honra ao Mérito, por iniciativa de dois Vereadores
desta Casa, nós estamos, de alguma maneira, Sr. Presidente e nossos
homenageados, procurando resgatar um pouco daquela nossa Porto Alegre, daquele
nosso Rio Grande, tão necessários para melhorar a qualidade de vida da nossa
Cidade, do nosso Estado. Por isso, eu saúdo, nesta oportunidade, em nome do meu
Partido, na condição de Líder da Bancada Trabalhista nesta Casa, do PDT, os
dirigentes da Livraria do Globo, os familiares, os amigos da Livraria do Globo,
e o Rio Grande, porque, quando nós promovemos este evento, outorgando o Troféu
Honra ao Mérito a essa instituição – eu digo “instituição” porque a Livraria é
mais do que uma empresa na história do Rio Grande –, nós estamos procurando
resgatar o que de bom havia no passado do Rio Grande para os momentos
presentes. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): A Mesa registra, além da presença dos
Vereadores que farão uso da palavra, a presença da Ver.ª Maristela Maffei.
O
Ver. Elói Guimarães está com a palavra. Fala pelo seu Partido, o Partido
Trabalhista Brasileiro – PTB.
O SR. ELÓI GUIMARÃES: Sr. Presidente, Ver. João Antonio Dib;
Srs. Vereadores e Sras. Vereadoras. (Saúda os componentes da Mesa.) Também
saúdo o Presidente da Câmara do Livro, Sr. Geraldo Huff; a D. Mila Cauduro,
ex-Secretária de Cultura do Estado; demais pessoas aqui presentes; familiares
“bertasos”; funcionários da Livraria; os amigos, aqui, num dia de excepcional
significação para a cidade de Porto Alegre, quando tem a oportunidade de
homenagear um verdadeiro ícone, um verdadeiro símbolo da cultura nacional que é
a Livraria do Globo. E a história da cultura brasileira, e a história da
cultura político-gaúcha passam, inquestionavelmente, pela Livraria do Globo. A
Livraria do Globo, a Editora Globo – aqui já destacados os aspectos familiares
da sua organização – transcende a figura da empresa, é uma instituição, é, por
assim dizer, uma instituição pública, Cláudio Bertaso. Nós todos, o povo de
Porto Alegre e do Rio Grande do Sul se sente um tanto acionista da Livraria do
Globo, porque a Livraria do Globo talvez pertença metade aos Bertaso e a outra
metade ao Estado, à população do Estado do Rio Grande do Sul, à população de
Porto Alegre, e por que não dizer à população brasileira, dado o que ela
representou para o desenvolvimento cultural do nosso País e em especial do
nosso Estado. Centro intelectual da vida política e da vida cultural da Cidade,
a Livraria do Globo, na história, representou um espaço onde as grandes figuras
da nacionalidade por ali passavam e ali ficavam em entretenimentos, trocando
idéias sobre os mais diferentes assuntos e acontecimentos da história e do
futuro deste Estado e deste País.
Então,
é algo muito grande a Livraria do Globo. Poucas são as instituições que
carregam essa significação cultural, histórica, política, como a Livraria do
Globo. É, portanto, uma instituição. É mais do que uma empresa importante,
importantíssima. É mais do que tudo isso. É exatamente uma usina de produção do
próprio saber, porque ali, não só pelo que ela representa na distribuição do
livro, não só pela edição e também pelas traduções que fez da literatura
internacional, sem a qual as gerações passadas, as gerações desse último século
e no primeiro quartel do século não teriam tido a oportunidade de conhecer.
Refiro-me a apenas um, a tradução de Mein Kampf, que foi trazido e foi
traduzido exatamente aqui na Livraria do Globo para o conhecimento, por assim
dizer, do povo brasileiro.
O
tempo, evidentemente, é extremamente curto para que se continue a falar nessa
instituição, nesse ícone da cultura social, política, intelectual e cultural do
Rio Grande. Então, fica aqui, à Livraria do Globo, aos seus funcionários, à sua
direção, ao Sr. Bertaso, a nossa saudação. E apenas mais um momento para um
pequeno verso de Castro Alves, quando dizia, Bertaso, isso vale para a Livraria
do Globo: “Ó bendito quem semeia livros,/ Livros à mancheia/ E manda o povo
pensar/ Porque o livro, caindo n’alma/ É germe que faz a palma,/ É chuva que
faz o mar.” Obrigado. (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): Registro a presença do Ver. João Bosco
Vaz.
O
Ver. Wilton Araújo está com a palavra.
O SR. WILTON ARAÚJO: Sr. Presidente, Sras. Vereadoras e Srs.
Vereadores (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Senhoras e
senhores que estão aqui hoje para prestar esta homenagem justíssima a nossa
Livraria do Globo. Nosso querido amigo Henrique, que não está na Mesa aqui,
está na mesa ali, não sei se a Mesa deveria estar lá ou ele aqui, enfim, mas
certamente faz parte de toda essa história.
Eu vejo com satisfação a concessão do
Troféu Honra ao Mérito, Troféu esse que anualmente se entrega a grandes
instituições e também a grandes personalidades. Este Troféu faz gizar, faz eco,
traz mais para perto de nós essa grande organização. Discorrida toda a sua
história, toda a sua grandeza, toda a sua participação, enfim, a Livraria do
Globo que faz e atrai por seus méritos, pelo que ela faz hoje em dia e pelo que
foi na história, traz à Casa grandes personalidades como a ex-Secretária da
Cultura que, sempre que possível está entre nós aqui, e eu, vez por outra, vejo
as fotos do arquivo e esses dias encontrei uma foto da inauguração da Avenida
Cultural Clébio Sória exatamente quando a senhora era Secretária da Cultura, e
essa foto me fez lembrar dos grandes momentos e do prestígio emprestado à Casa
nos momentos em que foi Secretária da Cultura. Por isso, seja sempre muito
bem-vinda a nossa Casa.
Esses
dias, eu tive uma boa notícia. Porto Alegre estava, há alguns anos, um pouco
triste, porque a Livraria começou a se deslocar para o Município vizinho, foi
indo, achei que iria de todo, que iria aos pouquinhos, mas que acabava indo de
todo para Cachoeirinha. E eu pensando sobre toda essa história de Porto Alegre
perder essa grande instituição, essa grande empresa. Será que a Administração
não tem nada para fazer, será que os Vereadores não vão se mexer para que isso
não aconteça? Eu começava a me mexer entre os meus pares, vamos ter que
compensar alguma coisa. Quem sabe a Livraria volta para o nosso seio da Cidade
que a abrigou, viu crescer e complementou as suas atividades culturais e
implementou as atividades. Mas esses dias, digo aos Srs. Vereadores, tive a
bela notícia: a direção da Livraria começa a voltar a Porto Alegre. Acho que
não abandona Cachoeirinha, mas pelo menos vamos dividir isso. Eu estava muito
triste, quando a via só lá em Cachoeirinha. Então, Porto Alegre começa a ganhar
de volta essa boa disputa de ter grandes instituições e grandes empresas aqui.
De
tudo que foi dito, esta empresa tem todo o nosso respeito, consideração e,
certamente, não só dos Poderes Públicos, mas a consideração de toda a cidade de
Porto Alegre. Queria dizer que de tão grande história, de tão grande vida, ela
é, pelo que me recorde, a única que conseguiu por méritos, por vontade do povo
de Porto Alegre receber dupla homenagem: 120 anos marcados há poucos dias por
um Grande Expediente nesta Casa, e agora um Troféu Honra ao Mérito, nada mais
justo! Quero que fique marcado no coração daqueles que administram hoje e vão
administrar no futuro, que esta Cidade merece e precisa da Livraria. Muito
obrigado. (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): O Ver. Raul Carrion está com a palavra.
O SR. RAUL CARRION: Sr. Presidente, Srs. Vereadores e Sras.
Vereadoras. (Saúda os componentes da mesa e demais presentes.) Em nome do PC do
B, quero saudar, com enorme alegria, esta centenária casa de cultura que é a
Livraria do Globo, cuja história se confunde com a história desta Cidade e
deste Estado, pela qual passaram grandes nomes da cultura gaúcha, como Érico
Veríssimo e Mário Quintana.
A
Livraria do Globo foi fundada em 1883 por Laudelino Pinheiro Barcellos. Quanta audácia
fundar uma livraria em um País de analfabetos e escravos, nesta distante
Província do extremo sul, mais afeita às armas do que às letras. A pequena
livraria logo se transformou em tipografia fabricando livros em branco para
escrita de outras firmas.
Em
1890, contratou o menino José Bertaso, que tinha, então, 12 anos, para ajudar
na limpeza, caixa e balcão da livraria. José Bertaso permaneceu na Livraria do
Globo toda sua vida. Passou de servente a caixeiro, chefe de loja,
administrador de oficina, gerente, sócio e, em 1918, proprietário. Quando
faleceu, em 1948, deixou um complexo empresarial que compreendia uma importante
livraria com filiais em Santa Maria, Rio Grande, Pelotas, escritórios no Rio de
Janeiro e São Paulo e representantes em quase todas as capitais brasileiras.
Em
1916, a Livraria do Globo lançou o primeiro grande empreendimento da livraria
como casa Editora: o Almanaque do Globo. João Pinto da Silva e Mansueto
Bernardi foram contratados para orientar a edição do Almanaque. Mansueto Bernardi
atuou como administrador e divulgador intelectual da sessão de obras e edições,
de 1918 a 1930 - justamente o período em que a Livraria do Globo começou a
editar autores gaúchos como Augusto Meyer, Dionélio Machado, Ruy Cirne Lima,
Paulo de Gouveia e Vargas Netto.
Por
volta de 1930, a Editora começa a operar como um departamento especializado da
Barcellos, Bertaso & Cia.
Mais
tarde, em 1956, a Editora Globo torna-se uma sociedade autônoma associada à
Livraria do Globo S. A., em cujas oficinas gráficas continuaram a ser impressas
as obras planejadas pela Editora.
A
partir de 1930, a Livraria do Globo, com mais ênfase, começa a editar grandes
autores estrangeiros, ampliando o horizonte cultural de Porto Alegre e do Rio
Grande do Sul.
No
Grande Expediente, que o Ver. Wilton Araújo propôs, eu fiz referência de que
ainda tinha alguns livros em casa, herdados do meu pai, Francisco Machado
Carrion, grande leitor e cliente da Livraria do Globo. Hoje, trouxe alguns que,
aliás, o Ver. Elói Guimarães falou de um deles, o de 1939, “A Minha Luta” de
Adolf Hittler, que, como historiador, me vi obrigado a consultar, inclusive
sobre uma pesquisa sobre o pacto germano-soviético; inteirinho - hoje em dia,
algumas edições não duram tanto -, com sessenta e quatro anos. Peguei outros
títulos: “Winston Churchill” de René Kraus;
“O Drama da Europa” de John Gunter; “A Quinta Coluna no Brasil - A
Conspiração Nazi no Rio Grande do
Sul”, do Tenente-Coronel Aurélio da Silva Py; “Eu financiei Hitler”, de Fritz
Thyssen; e - não sei se é a primeira edição - de Raymundo Faoro, na sua obra clássica, “Os Donos do
Poder”, “Formação do Patronato Político-Brasileiro”, na sua orelha o jovem
ensaísta, hoje, radicado no centro do País. Então, é uma demonstração do
trabalho, do papel que a Livraria do Globo, realmente, cumpriu e cumpre no
nosso Estado.
Em 1931, a Revista do
Globo lançou a coleção amarela com livros de Edgar Wallace e, no ano seguinte,
a coleção já contava com outros autores. Entre 1931 e 1933, a Livraria do Globo
lançou a coleção Espionagem; a coleção Verde, com romances para senhoras e
senhoritas; coleção Nobel, com obras de autores célebres da literatura
universal; e a coleção Universo.
A Livraria do Globo, do
alto de seus 120 anos de existência, é um patrimônio do Rio Grande do Sul, e
pode proclamar com orgulho que contribuiu, decisivamente, para a formação da
consciência do povo gaúcho. Homenageá-la é homenagear a história e a cultura da
humanidade. Muito obrigado, parabéns, e parabéns aos Vereadores Aldacir
Oliboni, e Carlos Alberto Garcia, que propiciaram momento tão importante como
este. Concluo parafraseando o grande corso de cima desta pilha de livros: mais
de três séculos vos contempla. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): O Ver. Reginaldo Pujol está com a palavra
em nome do PFL.
O SR. REGINALDO PUJOL: Sr. Presidente, Srs. Vereadores e Sras.
Vereadoras. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Caros colegas
proponentes desta homenagem, Vereadores Aldacir Oliboni e Carlos Alberto
Garcia, é óbvio que, depois dessa série de manifestações que ocorreram em
homenagem à nossa Livraria do Globo, a nossa presença nesta tribuna seria, de
certa forma, uma demasia, senão uma ousadia.
Inobstante,
entendemos que, em que pese tudo o que já foi dito, com raro brilho, pelos
nossos colegas que tomaram a iniciativa da homenagem e pelos outros tantos
colegas que se somaram à homenagem, se impunha que nós, como representantes do
Partido da Frente Liberal, viéssemos a esta tribuna para também dar o nosso
testemunho de apreço que toda a cidade de Porto Alegre tem para com a nossa
Livraria do Globo.
Esta
Casa, todos sabem, é uma Casa plural, aqui tem acento todas as correntes de
opiniões políticas, e seria uma lamentável omissão se nós não estivéssemos
aqui, também, na tribuna, nos somando a todas essas homenagens que, justamente,
a Livraria do Globo está recebendo nos seus 120 anos.
Pessoalmente,
tenho a desvantagem de ser um dos mais idosos da Casa, o que, no particular, me
permite algumas vantagens. Certamente, para muitos, as informações sobre a
Livraria do Globo, a sua importância na vida cultural do Estado, o point que ela representou durante muito
tempo ali na Rua da Praia, é história; para mim, são situações que eu vivi junto.
Por isso, eu sei bem da importância da Globo, sei que, em determinado momento,
a forte concorrência, de certa maneira, diminuiu essa importância sobre o
aspecto empresarial, mas em nenhum momento contaminou sob o ponto de vista
cultural como referencial que é no Estado do Rio Grande do Sul e, especialmente
na sua Capital, aqui, em Porto Alegre.
Por
isso, Dr. Cláudio, meu caro Henrique, eu estou aqui dando uma demonstração de
que nem sempre os mais idosos são mais sábios; eu estou sendo mais ousado me introduzindo
nesse contexto de oradores no qual não faltou o talento da Ver.ª Margarete
Moraes, tampouco o vigor do Ver. Isaac Ainhorn, aliado ao Ver. Raul Carrion
que, inclusive, quase que traz a sua biblioteca inteira para demonstrar o seu
apreço à nossa querida Livraria do Globo.
Certamente,
se o Ver. Elói Guimarães resolvesse dar uma demonstração nesse sentido, a
tribuna não resistiria tamanha a quantidade de livros que ele, o Ver. João Dib,
o Ver. Wilton Araújo, a Ver.ª Maristela Maffei, enfim, todos temos guardados,
muitas vezes em lugares muito especiais na nossa casa, porque, normalmente,
eram aquelas publicações que diziam respeito às coisas do Rio Grande, e, por
isso, a gente guardava com mais carinho.
Meu
caro Dr. Cláudio, meu caro e jovem integrante da família Bertaso, plenamente
integrado na atividade dessa empresa familiar - que já foi declarada aqui como
uma instituição de Porto Alegre e do Rio Grande -, a história, muitas vezes, é
escrita por situações que nós não conseguimos prever. Eu tenho num exemplo a
demonstração mais clara da importância da sua empresa, da nossa Globo no
contexto desta Cidade. Eu me lembro – e o Ver. Elói certamente há de se lembrar
também – de uma tarde quando houve um alvoroço na Rua da Praia. Esse alvoroço
foi porque, em 1963, nas vésperas da eleição municipal, o grande Erico
Verissimo havia escrito uma carta ao Cândido Norberto, apoiando-o na eleição à
Prefeitura Municipal. E essa carta, pela primeira vez foi ampliada, num
processo que era uma revolução na ocasião, em tamanho pelo qual ela podia ser
exposta na vitrine da Livraria do Globo. E, naquele dia, o trânsito parou na
Rua da Praia, literalmente. Naquela época, os carros ainda passavam pela frente
da Livraria do Globo e, certamente, naquele dia eles não conseguiram passar. A
Globo, mais uma vez, parou o trânsito. E nessa Globo, que parou o trânsito
tantas vezes aqui na Cidade de Porto Alegre, que ficava ali pertinho da Krahe,
da grande Loja Krahe, com a Masson um pouco mais adiante, essa Globo que fica
perto da Esquina de Porto Alegre, quando a Esquina de Porto Alegre era Esquina
de Porto Alegre e não tinha outro adjetivo, essa Globo eu quero saudar, em nome
do PFL, em meu nome próprio, dizendo o seguinte: 120 anos é pouco para uma
instituição desse tamanho. Vamos apostar que os nossos pósteros, os seus
pósteros continuem essa bela tradição, mais do que empresarial, cultural, e que
os nossos pósteros possam aqui, daqui a alguns anos, festejar não mais 120, mas
quem sabe os 150 anos da nossa Globo. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): Falar na consciência do dever cumprido é
muito importante. Mas, quando a coletividade reconhece que nós cumprimos com o
nosso dever, é muito melhor. E a coletividade, através de todos os partidos que
se expressaram na tribuna, disse da excelência dos trabalhos que a Editora
Globo, que a Livraria do Globo, que a família Bertaso prestou, e continua
prestando a Porto Alegre. Portanto, cumprimento-os mais uma vez. A Mesa é muito
democrática e, por votação unânime, somando os votos dos que também se
pronunciaram, escolheu a Sra. Mila Cauduro para fazer a entrega do Prêmio aos
responsáveis pela gloriosa caminhada da Livraria do Globo e da Editora Globo, e
convida, também, os Vereadores Carlos Alberto Garcia e Aldacir Oliboni para
acompanharem Dona Mila Cauduro.
(Procede-se
à entrega do Troféu.) (Palmas.)
A
homenagem foi justa, e em nome da Direção, dos servidores e até daqueles que se
beneficiaram da Livraria do Globo, com suas diferentes edições, vamos ouvir a
palavra do Vice-Presidente Henrique Ferreira Bertaso.
O
Sr. Henrique Ferreira Bertaso está com a palavra.
O SR. HENRIQUE FERREIRA BERTASO: Exmo. Sr. Presidente da Câmara Municipal
de Porto Alegre, Ver. João Antonio Dib. (Saúda os componentes da Mesa e demais
presentes.) É um momento muito emocionante para nós e a gente fica com os
nervos “à flor da pele” porque é um tempo de 120 anos; muitas pessoas
participaram, ao longo dos 120 anos, e proporcionaram ou propiciaram este
momento. Em meu nome, e acho que em nome de todas essas pessoas que ao longo
desse tempo fizeram a história da Livraria do Globo, eu gostaria de agradecer à
Câmara Municipal de Porto Alegre. Ficamos muito honrados. Muito obrigado.
(Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): Encaminhamo-nos para o final desta justa
e merecidíssima homenagem. Agradecemos à Direção da Livraria do Globo; à
representação do Sr. Vice-Governador do Estado; à representação de S. Exa. o
Prefeito Municipal, a todos e a cada uma das senhoras, a cada um dos senhores,
aos Vereadores que se pronunciaram, aos Vereadores que propuseram esta
homenagem, e eu chamaria a atenção de que oito Vereadores se pronunciaram, o
que não é comum num dia em que, como hoje, ainda as Comissões estão reunidas na
Casa. Portanto, agradecemos a presença de todos os senhores.
Neste
momento convidamos todos os presentes para ouvirmos o Hino Rio-Grandense.
(Ouve-se
o Hino Rio-Grandense.)
Agradecemos
a presença de todos e damos por encerrada a presente Sessão Solene.
(Encerra-se
a Sessão às 16h37min.)
* * * * *